“Mais perto do que se imagina: os desafios da produção de alimentos na metrópole de São Paulo” – Esse estudo vai te surpreender!
Se você mora em uma capital ou grande centro urbano, quando foi a última vez que viu uma plantação, conversou com um agricultor na roça, comeu fruta do pé, colheu alguma verdura, ou mexeu na terra? Para fazer tudo isso, o mais provável era que precisasse encarar uma longa estrada e viajar para o campo. Mas já imaginou poder fazer um pouco disso tudo no seu bairro a algumas quadras da sua casa?
Daqui a alguns anos aquele antagonismo entre as “Cidades e as Serras” –para usar o título de um livro clássico de Eça de Queiroz– pode ficar em algum lugar do passado, e os centros urbanos devem ganhar cada vez mais um ‘quê’ de zona rural. Já podemos até imaginar alguns cartões postais do futuro, com hortas e árvores frutíferas.
Isso é o que se espera com o desenvolvimento da agricultura urbana, que desponta como tendência em algumas metrópoles e pode redesenhar a paisagem de grandes centros, trazendo mais verde e natureza em volta.
De fato, quando nos aprofundamos nesse tema, o que vem à cabeça é: “essa é uma ótima ideia, como não fizemos isso antes?”, tal é o conjunto de benefícios sociais, ambientais e econômicos que proporciona.
Quem nos ajuda a entender esse panorama é Leandro Cizotto. Paralelamente ao seu trabalho como Head de Novos Negócios da Rizoma Agro, nossa empresa-irmã, ele se dedicou à elaboração de um amplo estudo sobre as diferentes agriculturas realizadas dentro e nos arredores da Região Metropolitana de São Paulo.
Intitulado Mais perto do que se imagina: os desafios da produção de alimentos na metrópole de São Paulo e idealizado pelo Instituto Escolhas, tem como objetivo investigar a viabilidade econômica e financeira da agricultura urbana e apontar caminhos para tornar o sistema alimentar da metrópole paulista mais sustentável e resiliente.
O resultado é simplesmente surpreendente!
“A agricultura urbana que hoje existe na região metropolitana é incrivelmente inspiradora. É o resultado de iniciativas corajosas que desafiam o senso comum de uso do solo da cidade para produzir, entre prédios e casas, ao lado de ruas e avenidas, alimentos frescos e em boa parte dos casos orgânicos”, diz Cizotto. Leia a entrevista completa neste link.
Os números revelam o potencial impacto positivo ligado ao desenvolvimento dessa atividade. Nesse infográfico abaixo, feito com informações extraídas do sumário executivo, vemos como esse modelo é capaz de gerar renda, aumentar substancialmente a oferta de alimentos e promover novos empregos.
Associado a tudo isso, está o aumento da área verde, a regeneração dos espaços naturais e o fortalecimento da produção agrícola orgânica e sustentável, que emerge como importante tendência. Ou seja, o meio ambiente é beneficiário direto dessa atividade no perímetro urbano.
“É muito importante trazer à tona a dimensão ambiental. As áreas urbanas e periurbanas cumprem um papel vital de ser um agente viabilizador da proteção de mananciais, preservação de reservas legais e APPs e contenção do avanço da especulação imobiliária para próximo dos limites das florestas que circundam a cidade. Estas externalidades, aliadas à geração de emprego e renda local em áreas periféricas, geram um impacto socioambiental enorme”, complementa.
“Plante alguma coisa”
Ron Finley, que revolucionou Los Angeles com seu projeto de plantações urbanas, em visita à Toca em 2018
Nesse tema da agricultura urbana, o americano Ron Finley, da foto, é um nome mundialmente conhecido. Tivemos o prazer de conhecê-lo pessoalmente na Fazenda da Toca em 2018 quando ele veio ao Brasil para dar uma palestra no seminário Fru.to e passou uma tarde conosco.
“Estava cansado de dirigir 45 minutos para arrumar uma maçã que não estivesse impregnada de agrotóxicos”.
E assim ele começou a plantar no quintal da frente de sua casa em Los Angeles. O que fez, logo chamou a atenção e começou a inspirar um movimento de hortas e produção de alimentos na cidade.
“Em terrenos ociosos, nas calçadas, canteiros centrais, vias públicas. Por quê? Por diversão, pelo desafio, pela beleza e para oferecer nas comunidades uma alternativa ao fast-food”, como afirma em sua apresentação no TED, que recomendamos que você assista.
Como ele diz, daria para plantar 720 milhões de tomateiros só nos terrenos vagos de Los Angeles.
E em São Paulo, o que daria para plantar?
Quando pensamos na região metropolitana de São Paulo, logo vêm à cabeça prédios e concreto. Mas você consegue imaginar o quanto dá para plantar?
O fato é que existe um espaço gigantesco para produzir, não só pela beleza, pelo desafio e diversão, o que motivou Finley, mas para fomentar uma cadeia produtiva com alto impacto positivo para o meio ambiente, a sociedade e a própria economia local.
“O estudo traz uma boa dose de esperança quando mostra a dimensão do impacto da aproximação entre roça o consumidor. Enxergo que temos um enorme espaço a explorar no uso sustentável de terrenos urbanos e, principalmente, periurbanos. É possível sim produzir nessas áreas, aqui perto de nós, com viabilidade operacional, comercial e econômica. E isso não é bom somente para o produtor, mas também para toda a comunidade”, afirma Leandro.
Nesse mapa abaixo, vemos como se divide a sua ocupação. Até 22% de seus 7.945 km2 são formados por área agrícolas ou com potencial para cultivo, como terrenos ociosos.
Transpondo a frase de Ron Finley para a nossa realidade, apenas nos 200 hectares de terrenos vagos existentes no município de Sapopemba, daria para alimentar 24 mil famílias, ou uma vez e meia o número de beneficiários do programa Bolsa Família naquele município.
Mas o estudo revela um contexto muito mais promissor e demonstra que a agricultura na RMSP tem potencial para alimentar, com legumes e verduras, 20 milhões de pessoas, número próximo ao total da população da metrópole.
Uma mudança de Paradigma
Um dado bem marcante desde o início da pandemia do coronavírus é que as pessoas passaram a comprar mais alimentos e cozinhar mais em casa. Esse fenômeno evidencia a importância de se avaliar mudanças em nosso sistema alimentar.
No contexto desse ‘novo normal’, em que os consumidores estão mais engajados com temas como alimentação saudável e produção orgânica e local, o desenvolvimento da agricultura no tecido urbano ganha relevância e, com ele, as discussões sobre um sistema alimentar mais justo para o produtor.
No Brasil, como aponta o estudo, predominam os circuitos longos de comercialização de alimentos. Isso significa que há muitos intermediários entre o produtor e o consumidor. Essa configuração tem algumas consequências. De um lado, há o encarecimento do produto final, uma vez que cada intermediário agrega uma margem de 100% sobre o valor de venda. De outro lado, o produtor fica fragilizado, pois não consegue negociar seus preços.
Embora predominante, esse sistema também opera com vulnerabilidades. Qualquer disrupção no fluxo de abastecimento pode causar prejuízos e ocasionar quebra na oferta, como ocorreu por exemplo durante a greve dos caminhoneiros de 2018, quando vimos cenas de desperdício de alimentos e gôndolas desabastecidas.
Com os circuitos curtos, em que a agricultura urbana e periurbana tem mais facilidade de se inserir, o processo é outro. Como a produção é local e, portanto, as distâncias entre o polo produtor e o polo consumidor são mais curtas, há um só intermediário.
Com esse sistema, hoje mais comum em feiras orgânicas, institutos de apoio ao produtor ou alguns restaurantes engajados com a produção local, o produtor tem maior poder de negociação de valores e o preço ao consumidor tende a ser mais acessível com a diminuição no número de intermediários.
Uma nova perspectiva
Uma aposta é que haja um encurtamento das cadeias, especialmente no segmento de orgânicos. De fato, desde o início da pandemia, modelos alternativos, como CSA e entrega de cestas orgânicas, vêm ganhando força.
Para Cobi Cruz, diretor-executivo diretor-executivo da Organis (Associação de Promoção da Produção Orgânica e Sustentável), o Brasil pode se assemelhar mais a alguns mercados desenvolvidos, como os Estados Unidos, por exemplo, em que os modelos de negócios de cadeias mais curtas já são bem avançados.
“O grande varejo continuará a ter um papel muito importante no segmento de orgânicas, mas outras frentes, como CSA, compras online e feiras orgânicas devem ganhar espaço”, disse ele em conversa com a Revista da Toca.
Com essas novas perspectivas, abre-se uma larga avenida para o desenvolvimento da agricultura urbana.
Conheça o estudo na íntegra
Se você gostou desse conteúdo e quer se aprofundar mais no assunto, deixamos para você o sumário executivo do estudo Mais perto do que se imagina: os desafios da produção de alimentos na metrópole de São Paulo neste link.
E nesse outro link, você pode acessar a plataforma online com outras informações muito detalhadas.
Gostaríamos de agradecer ao Leandro Cizotto pela colaboração com a Revista da Toca e pelo Instituto Escolhas e todos que participaram desse trabalho por nos dar a oportunidade de conhecer melhor a realidade da agricultura urbana na RMSP!
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